02/09/2012

25 ANOS BAD

 Assinalam-se hoje 25 anos sobre a edição de 'Bad'. Para assinalar esta data, Veneza apresentou em estreia mundial o documentário Bad 25, que recorda esse álbum de 1987.



Com o sucesso megalómano de Thriller (1982), Michael Jackson ganhou uma dimensão planetária que fez dele e da sua música algo bem mais que um fenómeno pop passageiro. E como suceder a um álbum como Thriller? Michael Jackson respondeu com Bad (1987), que reafirmou o seu estatuto, desvendando também alguns sinais que iriam marcar a sua música daí em diante. Depois de Bad a vida de Michael Jackson nunca mais seria a mesma. Os escândalos iriam persegui-lo até ao seu desparecimento. Mas agora que se celebram 25 anos desde o seu lançamento, há que recordar como Bad foi, mais que tudo, um momento marcante na pop.

Spike Lee percebeu o valor que esse trabalho teve no percurso de Michael Jackson, daí que tenha realizado o documentário Bad 25, que hoje se estreia no Festival de Cinema de Veneza.


Não se poderia esperar de Spike Lee um documentário convencional de Bad, o álbum famoso de Michael Jackson, que está completando 25 anos de lançamento. O que se pode dizer é que se trata de um filme colossal, feito de muitas vozes e muito som, uma fantástica recriação dos bastidores de um momento privilegiado do pop.


 Spike Lee, cuja familiaridade com Jackson  levou-o a filmar o video They Don’t Care About Us, no Brasil. Lee esteve em Veneza para o lançamento do filme e conversou com os jornalistas. Explicou a proposta, que surge com muita clareza na superfície do filme. “A Sony havia proposto algo sobre a música de Michael Jackson, mas eu resolvi fazer algo mais, descobrir o homem, nos seus aspectos que a maioria das pessoas desconhece. Desse modo, coloquei o foco mais no processo criativo, aspecto negligenciado quando se fala dele”.

 Portanto, três anos depois da morte do rei do pop, Lee tira do bolso um documentário que parece um backstage privilegiado da produção de um álbum, mas também  pela trajectória de Jackson e das ilustres pessoas que o cercaram. Spike Lee usou de toda a sua influência para rodar o filme. Quem, senão ele, teria acesso a tais personanagens, como Martin Scorsese, Quincy Jones, Mariah Carey, Cee-Lo.

 Há informação. Ficamos a saber por exemplo, que Jackson realizou cerca de 60 músicas para escolher as 11 do álbum. Nove são da sua autoria. Várias inéditas sairão no álbum comemorativo dos 25 anos de Bad. Fala-se muito do trabalho exaustivo e obsessivo de Jackson para que tudo soasse espontâneo, como se tivesse lhe vindo fácil.

Músicas, voz, passos de dança. Tudo era cuidadosamente calculado, ensaiado à exaustão, discutido com músicos e bailarinos (sempre os melhores encontráveis no mercado) para, por fim, serem colocados no álbum. Jackson tinha também o cuidado para que as músicas escolhidas fossem apropriadas para suas apresentações públicas. Há temas que funcionam no estúdio e não fora dele. Jackson gravava como se já estivesse se apresentando diante de 80 mil pessoas num estádio de futebol.

 Há cenas impressionantes de seu show no Estádio de Wembley, na Inglaterra, em 1988. “Michael bebia de todas as fontes possíveis”, diz Lee. E sempre andava atrás de água boa. “Marvin Gaye, Fred Astaire, Steve Wonder, Gene Kelly – ele ouvia e via todos eles e os incorporava em seus trabalhos”, diz. Spike Lee sabe que basear-se nos bons autores não é de forma alguma plágio, mas base para sustentar os vôos próprios do artista. Era o que Michael fazia.

Trechos de filmes e músicas aparecem no documentário para comprovar essa filiação. “Além do canto havia também a dança e ficamos sabendo que Jackson via atentamente todos os musicais de Vincente Minelli, por exemplo”, diz. Toda essa rede de influências está lá no filme, tanto nos depoimentos quanto nas imagens que acompanham a fala das pessoas.

 Por exemplo, vemos Martin Scorsese recordando o video que rodou para o álbum Thriller, até hoje o mais vendido. “Aliás, quando conversei com Jackson, não se referia jamais a esses trabalhos como clips ou vídeos. chamava-os de curtas-metragens, pois achava que eram obras de respeitabilidade artística.”

Portanto, além da informação, há também a tentativa de reconstrução de uma carreira sólida, com ancoragem no soul, e no que de melhor havia na música americana da década. Jackson firmou o seu estilo, com a voz adolescente característica, embora tivesse extensão vocal privilegiada de três oitavas, indo até o barítono. Era uma espécie de Peter Pan e sua voz exprimia esse desejo de não crescer – compartilhado por muita gente, o que é uma das chaves do sucesso.

De qualquer forma, a impressão causada por Jackson sobre as pessoas que com ele conviveram e trabalharam é muito forte, o que se nota nos depoimentos sobre sua morte precoce. A própria relação de Spike Lee com seu personagem é feita de afeto. “Cresci com ele, no tempo dos Jackson Five. Usava cabelo afro como ele, só que, ai de mim, não podia nem cantar e nem dançar do mesmo jeito, nem de longe”, lembra Lee. “Espero que as pessoas notem que Bad 25 é uma carta de amor a Michael Jackson”.

A imagem do artista sai supervalorizada  neste  filme, que evita os preconceitos e julgamentos caricaturais sobre o ídolo. Provavelmente, os fãs vão adorar. E mesmo os que não gostem tanto a obra de Michael Jackson sairão com uma visão enriquecida do artista.

Desmistificar preconceitos, expandir a sensibilidade e visão de mundo do expectador é uma das maiores funções de um documentário.

Bad 25 é, desde já, um dos grandes filmes já feitos sobre um ídolo e a sua obra.

Sem comentários:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails