27/12/2012

JULIÃO SARMENTO

Na pintura e, de um modo geral, nas imagens de Julião Sarmento, a palavra disputa os poderes de figuração e comunicação. Discutindo a primazia de corpos e objectos, podemos ler sobre as mais diversas superfícies (pinturas, desenhos, etc.) expressões ou frases como ta bouche (“a tua boca”), flying to (“voando para”) ou please don’t ever leave me (“por favor nunca me deixes”). Não são explicitações da “mensagem” de cada obra, antes modos calculados, calculadamente perversos, de resistir à pedagogia tradicional que garante que “uma imagem vale mil palavras”.

 Em boa verdade, uma palavra pode valer mil imagens... Num mundo dominado pela indiferenciação (televisiva) das imagens, Julião Sarmento insiste num outro programa pedagógico: o de garantir ao espectador que o seu olhar é sempre uma forma de leitura. Ou ainda (e porque esta é uma obra de paciente perscrutação das ambivalências do prazer): que o espectador não se escude no fingimento de quem apenas contempla o desejo do “outro” (pintor, fotógrafo, cineasta, etc.), já que o seu olhar é sempre um instrumento (ou como dizia o outro: uma máquina) desejante. Há, por isso, um desconcertante efeito realista na notável exposição retrospectiva de Julião Sarmento, comissariada por João Fernandes e James Lingwood (patente em Serralves, até 3 de Março de 2013).
 Diário de Notícias (16 Dezembro), com o título 'Nas palavras de Julião Sarmento'.

 O Museu de Arte Contemporânea de Serralves inaugurou no dia 23 de Novembro a mais completa exposição retrospectiva de Julião Sarmento (Lisboa, 1948) até agora realizada. Nas últimas quatro décadas, a obra de Julião Sarmento tem conseguido uma ampla circulação internacional, fazendo do seu autor um dos mais reconhecidos artistas contemporâneos portugueses.

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